
Por muito tempo, a inteligência foi vista como algo único e mensurável, quase como um número mágico definido por um teste de QI. Quem tirava nota alta era considerado inteligente. Essa visão, apesar de ainda influente e com seu valor, começou a ser questionada a partir da década de 1980. Foi então que o psicólogo Howard Gardner propôs uma mudança de paradigma: a inteligência não é uma coisa só, mas um conjunto de competências cognitivas distintas, que cada pessoa possui em graus diferentes. Então, nascia aí a Teoria das Inteligências Múltiplas. Assim, o artigo Os diferentes tipos de inteligência na TI explora como essa questão habita a gestão dos time de TI.
Mas, além desse artigo, aqui no blog também temos diversos outros artigos sobre kubernetes, desenvolvimento, gestão, devops, etc. Veja alguns exemplos: Diferenças entre Paradigmas, Axiomas e Hipóteses, Desenvolver na empresa ou comprar pronto, Fuja da otimização prematura, entre outros.
Sumário
- A História da Inteligência
- Os diferentes tipos de inteligência na TI e as 9 inteligências do Gardner
- E a Gestão de TI?
- Conclusão de os diferentes tipos de inteligência na TI
- Domain Driven Design: Afirmações
- O que é IPCA?
- Como é a informação, vista como bem econômico?
- Desvendando o Context Map
- Não confio em quem não erra
- O que é TR ou Taxa Referencial?
- Acessibilidade Web
- O que é SNIPC?
A História da Inteligência
A inteligência é um dos temas mais investigados pela neurociência, pela psicologia cognitiva e alvo da administração e gestão de de TI. Ao longo de séculos diversos estudos e modelos psicométricos foram criados e refutados. Esse artigo se aprofunda em um, mas vamos entender um pouco como chegamos até aqui,.

“Inteligência é a habilidade de se adaptar, moldar e selecionar ambientes para alcançar objetivos pessoais e coletivos, utilizando análise, criatividade e prática” – Robert Sternberg (1985, 1997)
O modelo de Spearman (1904)
O primeiro modelo formal da inteligência foi proposto por Charles Spearman, e ficou conhecido como a Teoria dos Dois Fatores. Segundo ele, existem dois componentes fundamentais:
- Fator G (inteligência geral): inato, genética, comum a todos os tipos de tarefa intelectual.
- Fatores S (inteligências específicas): habilidades particulares, desenvolvidas com base em experiências e no ambiente.
Esse modelo deu origem ao que chamamos de teste de QI. Entretanto esse modelo não é considerado, hoje, o padrão ouro, embora seja muito respeitado. O modelo a seguir (CHC) sim é o mais considerado.
O modelo CHC (Cattell–Horn–Carroll) ou Inteligência Fluida e Cristalizada
Esse é o modelo mais aceito atualmente na psicologia é o CHC, uma integração das teorias de Cattell, Horn e Carroll. Ele organiza a inteligência em camadas hierárquicas, sendo as principais:
- Inteligência Cristalizada (Gc): corresponde ao conhecimento acumulado, aprendido ao longo da vida através da escola, dos pais, da cultura, da linguagem e da experiência. É fruto de transmissão formal e informal, e depende fortemente do ambiente externo.
- Inteligência Fluida (Gf): é a capacidade de resolver problemas novos, de forma lógica e criativa, sem depender de conhecimento prévio. Está ligada ao raciocínio abstrato e à intuição, e tem base mais genética.
Esses dois tipos de inteligência se complementam: a fluida determina o quanto conseguimos cristalizar. Por exemplo, uma pessoa com deficiência intelectual pode ter mais dificuldade em transformar vivências em conhecimento estruturado, não por falta de exposição, mas por limitações na fluidez cognitiva. Se formos comparados a Isaac Newton, a maioria de nós somos bem limitados em quanto podemos cristalizar.
O modelo de Gardner: Os diferentes tipos de inteligência na TI
Na década de 1980, Howard Gardner propôs uma nova teoria: a das Inteligências Múltiplas. Então, nesse modelo ele sugere que há diversos tipos de inteligência. Embora esse modelo seja amplamente usado na educação e em ambientes corporativos, ele não é plenamente aceito pela academia científica, por falta de validação estatística.
No entanto, para fins práticos, como na gestão de equipes de TI, pode ser uma forma mais intuitiva e funcional de observar as forças cognitivas de cada colaborador. A aplicabilidade vai depender do olhar e da maturidade de cada gestor.
Os diferentes tipos de inteligência na TI e as 9 inteligências do Gardner
O Gardner separou os diferentes tipos de inteligência em 9, aplicáveis na TI ou fora dela. Veja a seguir quais e como elas são.

1 – Inteligência Lógico-Matemática
Essa é a mais forte nos testes de QI. Pessoas com inteligência lógico-matemática desenvolvida conseguem perceber padrões, resolver problemas, fazer deduções e cálculos com facilidade. Assim, são aquelas que amam desafios de lógica, gostam de entender o porquê das coisas e muitas vezes se sentem confortáveis com tecnologia, engenharia, finanças ou programação. Então, no fundo, é a habilidade de manipular conceitos abstratos e transformá-los em algo lógico, estruturado e compreensível.
2 – Inteligência Linguística
Se você é do tipo que se expressa bem, gosta de escrever, ler, contar histórias ou aprender novos idiomas com facilidade, você pode ter uma inteligência linguística apurada. Escritores, jornalistas, advogados, professores e roteiristas vivem disso. Pessoas com esse tipo de inteligência conseguem não só transmitir ideias com clareza, mas também encantar com as palavras.
3 – Inteligência Espacial
Essa inteligência permite visualizar e manipular objetos mentalmente. Designers, arquitetos, artistas visuais, engenheiros civis e jogadores de xadrez geralmente têm essa inteligência bem desenvolvida. Também é muito comum entre motoristas habilidosos, cirurgiões e até jogadores de videogame.
A pessoa com inteligência espacial forte costuma ter excelente memória visual, facilidade para interpretar mapas, diagramas, plantas ou criar representações mentais detalhadas de ambientes. Leonardo da Vinci, por exemplo, é frequentemente citado como alguém com inteligência espacial fora da curva.
4 – Inteligência Musical
A inteligência musical se refere à capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais. Não é só “ter ouvido bom”: é entender estrutura, tempo, harmonia e variações, às vezes de forma intuitiva. É também aquela pessoa que escuta uma música uma vez e já sai cantarolando.
5 – Inteligência Corporal-Cinestésica
Essa é a inteligência do corpo em movimento. Então, pessoas com essa inteligência têm uma relação apurada entre mente e corpo: dançarinos, atletas, cirurgiões, atores, artesãos, mecânicos e até cozinheiros experientes estão nesse grupo. Conseguem expressar ideias ou resolver problemas usando o corpo como ferramenta principal.
6 – Inteligência Interpessoal
Essa é a habilidade de entender os outros: suas emoções, desejos, intenções e temperamentos. É essencial para quem lida com pessoas: líderes, professores, terapeutas, vendedores, gestores. Pessoas com alta inteligência interpessoal geralmente são boas de conversa, escutam com atenção, percebem sutilezas emocionais e têm empatia acima da média.
7 – Inteligência Intrapessoal
Se a interpessoal é entender os outros, a intrapessoal é entender a si mesmo. É a capacidade de olhar para dentro e identificar sentimentos, desejos, medos, forças e fraquezas. Pessoas com essa inteligência são introspectivas, autorreflexivas e geralmente têm uma bússola interna bem calibrada. Ela é essencial para escritores, filósofos, psicanalistas, líderes e qualquer um que precise tomar decisões com base em valores, e não apenas em dados. É a inteligência da autoconsciência e da maturidade emocional.
8 – Inteligência Naturalista
Você reconhece o canto de um pássaro, consegue diferenciar plantas por suas folhas ou sempre foi fascinado por dinossauros? A inteligência naturalista é a habilidade de identificar padrões e classificações no mundo natural. É típica de biólogos, botânicos, ecologistas, geólogos e agricultores.
9 – Inteligência Existencial
Ainda em debate, essa inteligência foi sugerida por Gardner como uma “possível nona”. Trata-se da capacidade de refletir sobre temas como existência, morte, espiritualidade, o sentido da vida. Não é uma inteligência necessariamente religiosa, mas filosófica e reflexiva. Pessoas com essa inteligência tendem a se interessar por metafísica, filosofia, teologia e cosmologia. São aquelas que, desde crianças, fazem perguntas como “por que estamos aqui?” ou “o que acontece depois da morte?”. Embora mais difícil de medir, ela é percebida como fundamental em líderes espirituais, pensadores e até artistas que abordam a condição humana.
E a Gestão de TI?
Ok, mas o que tudo isso tem a ver com gestão de equipes de TI? Tudo! Em um time de tecnologia, raramente você lida com um perfil só de inteligência. Muito pelo contrário, times técnicos costumam ser compostos por um misto de inteligências, que vão muito além da lógico-matemática.
Por exemplo: o desenvolvedor backend que resolve bugs com elegância provavelmente tem forte inteligência lógico-matemática e fluida. Já aquele analista de requisitos que entende o cliente como ninguém pode ter uma inteligência interpessoal altíssima. O profissional que traduz tudo isso em um front claro e intuitivo? Espacial. O que organiza o backlog com objetividade e comunica bem nas dailies? Linguística. E por aí vai.
Como gestor de TI, nosso papel é aproveitar o máximo dessas mistura e reconhecer as diferentes inteligências em jogo e potencializá-las. Isso significa:
- Identificar talentos além do hard skill.
- Equilibrar o time com base em competências cognitivas diversas.
- Distribuir tarefas considerando mais do que apenas o “cargo” no organograma.
- Criar um ambiente onde diferentes formas de inteligência se complementam, e não colidem.
A Teoria das Inteligências Múltiplas pode não ser o modelo mais validado na academia, mas ela é um excelente radar prático para quem lidera pessoas. Assim, em especial, pessoas da tecnologia, que são, frequentemente, muito mais variadas e sofisticadas do que o estereótipo pressupõe.
Conclusão de os diferentes tipos de inteligência na TI
Ver a inteligência como algo único e mensurável não está errado. É uma forma válida de entender o tema e continua muito respeitada pela ciência. Mas, na prática do dia a dia, especialmente na gestão de equipes de TI, o modelo das inteligências múltiplas costuma ser mais útil. Assim, ele permite reconhecer talentos que não aparecem num teste de QI e ajuda a montar times mais equilibrados. Não se trata de escolher um modelo e descartar o outro, mas sim de aproveitar o que cada um oferece de melhor. Portanto, devemos sempre considerar que sempre há os diferentes tipos de inteligência na TI.
Ele atua/atuou como Dev Full Stack C# .NET / Angular / Kubernetes e afins. Ele possui certificações Microsoft MCTS (6x), MCPD em Web, ITIL v3 e CKAD (Kubernetes) . Thiago é apaixonado por tecnologia, entusiasta de TI desde a infância bem como amante de aprendizado contínuo.