Poder e Influência

No fim das contas, poder, influência e ação formam um triângulo inseparável dentro das organizações: o poder cria a possibilidade, a influência viabiliza por meio de terceiros, e a ação concretiza o impacto. Ter cargo não garante respeito, assim como ser respeitado não garante resultado. Por isso, compreender as bases que sustentam cada um desses pilares é essencial para qualquer profissional que queira mais do que suas ordens sejam executadas: é para quem quer transformar ambientes, decisões e, principalmente, relações.

Poder, influência e ação são conceitos que se entrelaçam na prática organizacional com muito mais complexidade do que imaginamos. Não basta ter o crachá com o cargo certo. O verdadeiro jogo de poder acontece em espaços simbólicos, informais, relacionais: onde a cultura define as regras não escritas. O artigo Poder e Influência não vai te dizer como se tornar poderoso. Mas vai te ajudar a compreender o que torna alguém capaz de agir, o que sustenta essa capacidade, e como ela se manifesta nas tramas corporativas. Em tempos onde se fala muito sobre protagonismo, liderança e influência, talvez seja hora de desconstruir o que esses termos realmente significam.

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Agindo através do poder e influência

Primeiro devemos ter em mente que quando dizemos que alguém tem poder ou é poderoso, esse alguém pode mais do que os menos poderosos. Pareço redundante, mas vamos aprofundar um pouco nesse argumento. A pessoa poderosa pode ou tem possobilidade de fazer coisas, seja por ela mesma fazendo ou através de outros.

Diagrama esquemático de Poder, Influência e Ação

Note que o poder é uma abstração, mas ele tem como consequência direta a ação que, quando feita por outra pessoa, ela ainda precisa de outra estrutura: a influência. Portanto temos esses três conceitos como ponto de partida: Poder, Influência e Ação.

O Poder e suas bases

Algumas pessoas buscam ter poder, seja acumulando títulos, crescendo em hierarquias, conquistando recursos (como dinheiro); mas outras não, por diversos motivos. Não quero explorar nesse artigo as motivações para se ter ou não poder, quero apenas mergulhar nessa dinâmica. Além disso o foco do artigo está nas manifestações de poder nas organizações.

Conceitos fundamentais ligados ao poder

  • Poder: Capacidade potencial de influenciar indivíduos ou grupos em uma relação social.
  • Influência: Exercício proposital de poder para afetar o comportamento de um indivíduo ou grupo.
  • Coalizões: Aliança de individuos ou grupos para alcançar objetivos.
  • Configuração de poder: Forma pela qual as coalizões se relacionam com as bases de poder e as metas da organização
  • Política organizacional: Padrões de comportamentos adotados por indivíduos ou grupos para influencias as ações de outros, sobre a alocação de recursos, visando interesses pessoais ou da organização.
  • Arena política: Espaços públicos como salas de reunião, cafezinho, reuniões online, eventos, onde o poder é testado para que ações sejam feitas.
Diagrama esquemático de Poder, Influência e Ação relacionando os indivíduos e Coalizões

As bases do poder

O poder emana de estruturas fundamentais que fazem parte do imaginário das pessoas, ou apenas aceitam formalmente por contrato. Vou citar apenas algumas bases que são consideradas relevantes por alguns autores.

1 – A posição hierarquica

Estar formalmente numa posição hierarquica é elemento importante e é uma fase instituída de poder, mas não é inequívoca. Imagine que um subordinado seja especialista em um tema técnico e você, enquanto gestor quer outra ação. Essa posição pode não ser decisiva e outras bases podem ser necessárias em situações desse tipo.

2 – O controle dos recursos

Ter a capacidade de direcionar orçamento ou aprovar projetos é, sem dúvida, um poder importante.

3 – A capacidade de coerção

Essa base se opõe à próxima: quando você repreende alguém por uma ação que considera inadequada, você exerce um poder duplo — pela crítica em si e por assumir a autoridade sobre o certo e o errado. Ao criticar, você pode errar, mas ao se posicionar como referência, você ainda assim exerce influência. No entanto, nem toda autoridade é legítima. Se, como diretor, você critica com base em argumentos técnicos frágeis e o time ignora sua fala, você apenas acredita ter esse poder — mas, na prática, não o possui.

4 – A capacidade de recompensar

Esse é o oposto à coerção e é teoricamente mais simples, entretanto, é fundamental ter recomensas bem feitas. Eventualmente um profissional ruim sendo promovido é uma ruptura de confiança com todo o seu time.

5 – Acesso a outros atores

Eventualmente você não tem o poder de dar uma promoção, mas tem o poder de pleitear junto à direção. Esses são cenários onde o acesso é base de poder.

6 – Ter competências de destaque

Outra situação é quando você sabe coletar informações do usuário final, compreende o cenário, transforma em solução técnica e designa para o time desenvolver de modo tão bom que se destaca. Uma competência (Conhecimento + Habilidade + Atitude) pode ser uma base de poder. Entretanto as organizações precisam ficar atentas para não gerar concentrações de conhecimento artificiais quando profissionais sugerem soluções que só eles conhecem.

7 – Ser referência

Essa situação se assemelha, mas não se iguala à de possuir uma competência de destaque. Quando o mercado reconhece você como consultor em estratégia corporativa, mesmo que outras pessoas na organização dominem o mesmo tema, você conquista uma posição de referência. A direção, ao buscar uma ferramenta de diagnóstico, pode enxergar você como a verdade no assunto — não por exclusividade de conhecimento, mas pela legitimidade construída externamente.

As bases da influência

Compreendi o poder e suas bases, agora observo como a influência se manifesta. Em estruturas hierárquicas formais, muitas vezes não preciso depender da influência para obter resultados. No entanto, quando assumo uma nova área de gestão, preciso considerar esse aspecto com atenção. A influência, por si só, carrega características essenciais para que eu exerça o poder de forma plena. Afinal, liderar apenas com base na hierarquia compromete a legitimidade da minha autoridade, especialmente quando meu subordinado obedece sem respeito ou concordância.

1 – Autoridade moral ou técnica

Há muitas pessoas que trabalham na área comercial que são corretas e não admitem corrupção, mas não são todas. Há também aqueles vendedores que se metem na tecnologia, prometendo o que não pode. Quando o poder é utilizado de modo a influencia ações, o alinhamento de expectativas morais e capacidades técnicas, sua influência será plena.

2 – Reciprocidade

Ao influenciar os outros no interesse de que algo seja feito, talvez seja o caso de no futuro aceitar uma influência contrária. A reciprocidade real gera relações fortes de confiança que precisam ser observadas e preservadas.

3 – Simpatia, empatia ou carisma

Outro ponto relevante é quanto agradável é compartilhar experiências contigo. Pessoas naturalmente agradáveis facilitam muito esse jogo, mas a capacidade de se colocar no lugar do outro vai além do carisma e deve ser trabalhado.

4 – Consistência e reputação

A medida que os resultados esperados pelas pessoas que se relacionam contigo são reais e claramente exibidos, você passa a ser visto como alguém que traz tais resultados. Esse é um fator proponderante na influência. Imagine que só de você assumir o projeto, os stakeholders já têm a certeza de que será um sucesso.

5 – Pressão social ou validação

Essa estratégia de influência pode ser vista como má fé em muitos casos, mas não em todos. Se muitas pessoas aderirem a uma determinada coisa, isso pode ser utilizado como ferramenta para você influenciar outra.

6 – Escassez ou urgência

Essa é outra ferramenta moralmente questionável, mas que também pode ser verdadeira. O término de um prazo, o limite de um determinado recurso, entre outros, pode ser um argumento relevante para influenciar sua contraparte.

7 – Exemplo pessoal

Por fim, quando você demonstra competência de destaque ou se torna uma referência, as pessoas passam a enxergar você como alguém a ser seguido — um espelho, um objetivo a alcançar. Esse reconhecimento exige maturidade profissional e posicionamento consistente, mas exerce uma influência profunda sobre quem o cerca.

As bases da Ação

Se você já tem toda a fundamentação de poder para exercer sua influência, se possui a fundamentação prática da influência, tudo está praticamente garantido. Porém é possível que a execução seja feita, o resultado ou mesmo a perspectiva íntima do executor ser diefrente do que você gostaria. As bases para ação tentam mitigar essas características.

1 – Clareza de Propósito

Quem vai executar precisa saber claramente o porque dele estar fazendo, que não seja apenas um medo exercido pela autoridade: “faça porque estou mandando”.

2 – Capacidade de execução

Não adianta exigir de alguém algo que ela não pode fazer.

3 – Legitimidade

Se você é admirado pela pessoa influenciada, ela te verá como alguém que merece que a ação seja feita. Essa legitimidade é o ponto mais alto da execução bem sucedida.

4 – Custo-benefício percebido

Não basta que o executante entenda o porque, mas que ele entenda que vale a pena e que faz sentido considerando a estratégia, valores, etc. dentro da realidade dela.

5 – Alinhamento com cultura e valores

Considerando também o que comentei no item anterior, a missão, visão e valores da organização precisam estar, de fato, presentes nesse pedido, para que ela seja plenamente executada.

6 – Patrocínio ou suporte estratégico

Por fim, a execução será feita, mas não pode ser simplesmente jogada pela direção. Se o executante tiver dúvidas é necessário que ele tenta uma contrapartida.

Conclusão de Poder e Influência

No fim das contas, poder, influência e ação compõem um triângulo inseparável nas organizações: o poder abre possibilidades, a influência mobiliza pessoas, e a ação gera impacto. O cargo não impõe respeito, e o respeito isolado não assegura resultados. Quem compreende as bases de cada pilar atua com mais clareza, transforma ambientes, direciona decisões e fortalece relações.


Thiago Anselme
Thiago Anselme - Gerente de TI - Arquiteto de Soluções

Ele atua/atuou como Dev Full Stack C# .NET / Angular / Kubernetes e afins. Ele possui certificações Microsoft MCTS (6x), MCPD em Web, ITIL v3 e CKAD (Kubernetes) . Thiago é apaixonado por tecnologia, entusiasta de TI desde a infância bem como amante de aprendizado contínuo.

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